Sábado, 7 de Agosto de 2004
O PELOTÃO
Eles saíram dum quartel,
Comandava-os um furriel;
Ao penetrarem no capim,
Logo um soldado teve fim:
-
Ao caminhar pelo capim,
Sob o sol quera braseiro;
O Manuel teve o seu fim,
Matou-o lá o guerrilheiro!
-
Em cada secção ia o cabo,
E iam numa fila indiana;
Mas um soldado era nabo,
Morreu do tiro na chana!
-
Cabo chama o enfermeiro,
Que um cabo também era;
Para sarar o tiro certeiro,
Lá disparado por uma fera!
-
Penetram por uma floresta,
Antes passaram na sanzala;
Menos um soldado já resta,
Nela lá o matou uma bala!
-
Se foi o José e o Joaquim,
Pelejando em terra dura;
E foram sepultados enfim,
Angola foi a sua sepultura!
-
Iam caminhando pelo pé,
Para cumprir sua missão;
Do morro atingem o sopé,
Lá morre António em vão!
-
E assim na primeira saída,
Que fizeram lá do quartel;
Quatro perderam sua vida,
Assim relatou esse furriel!
-
E quando iam para o mato,
Dessa bela terra angolana;
Eles pensavam num fato,
Que todos na terra irmana!
-
Eu não morri tive a sorte,
Disse no fim o comandante;
Todos os dias vejo a morte,
Desde esses dias em diante!
-
E quando a vida se apaga,
Passámos prá vida eterna;
Assim a vida é uma paga,
A nossa Nação, Mãe terna!
-
Sargento Manuel António
CAMPONÊS
A vida do camponês,
É uma vida de amor;
Leva o dia e um mês,
No amor do Senhor:
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Se chega o Outono,
Ele já diz consigo;
Já não tenho sono,
Vou semear o trigo!
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Vem a Primavera,
A mostrar uma cor;
A da fava que era,
Do primeiro amor!
-
Se chega o Inverno,
Nele a chuva cai;
Num som eterno,
E num sono se vai!
-
Ao chegar o Verão,
Ele leva os molhos;
E gotas que estão,
De suor nos olhos!
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Sob um sol ameno,
Ele os olhos lava;
Vai levar um feno,
Esse feno da fava!
-
Se o suor lhe cega,
A sua afiada vista;
Pede água da rega,
Prá sua conquista!
-
E diz-lhe por favor,
Minha flor tão rara;
Me lava este suor,
Que tenho na cara!
-
Ele apanha esteva,
Sob um sol morno;
E um burro a leva,
Pra junto do forno!
-
Amassa a farinha,
Sua companheira;
Ela é branquinha,
E que bem cheira!
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E ao tender o pão,
Com braço morno;
Ela com sua mão,
O benze pró forno!
-
No forno há calor,
Da lenha ardida;
A força do Senhor,
Ao pão dá a vida!
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Ouvindo a cigarra,
A cantar no Verão;
Ela faz de guitarra,
Ele canta a canção:
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E diz que uma vez,
Ele teve sua sorte;
Na dama que o fez,
Pronto prá morte!
-